«Quem lá vem dorme à noite ao relento na areia» e «cala notícias do meu país».
Nasci em 1974, em Abril, os mesmos volvidos que a Revolução dos Cravos, que me fazem pensar nos tempos do actual Abril.
O espírito da revolução permanecerá na ideia de alguns dos mais velhos, nos mais novos de certo pouco ou nada, muitos desconhecem as motivações, os valores, as causas e até as consequências.
Liberdade será a palavra que de imediato todos responderão se lhes for pedida só uma, mas de certo nem todos esboçarão um sorriso ao pensar em Abril.
A dualidade das personalidades. Otelo, herói da revolução ou terrorista, Soares, democrata ou culpado da descolonização, Vasco Gonçalves, líder ou ditador, Cunhal, lutador ou manipulador, Sá Carneiro, genial ou fascista, Eanes, libertador ou bloqueador.
Cada um fará a sua leitura, o seu sentido, a hierarquia da importância dos acontecimentos e das personagens. O que interessa é que todos são história e presente de um Portugal que tenta reconstruir-se da descolonização, da entrada numa Europa que a cada dia dá passos para uma unificação, num mundo mais exigente, tecnológico, desequilibrado e desumanizado.
É importante ensinar a História aos nossos filhos, mas será certamente mais importante ensinar a pensar um futuro. Tão justo quanto o possível (que expressão feia), em que sejamos solidários mas exigentes, democratas mas não permissivos, genuínos sem ser rudes, verdadeiros face aos princípios dos Homens e a si mesmos. O que é hoje Abril? História? Ou algo mais? Não sei, mas o que interessa é o futuro. O nosso, o dos nossos filhos, o do nosso país, que em tão grande crise económica, político-partidária, de valores, de crença nas instituições e de esperança, se encontra.
A culpa morre solteira entre «Eles», sempre os outros, esquecendo a nossa culpa individual, a nossa responsabilidade colectiva que nasceu nos tempos de Abril, mas que se calhar não cresceu o suficiente. Sim, Zequinha, também tens culpa. De cada vez que não pedes factura, de cada vez que não declaras impostos, de cada vez que dás um jeitinho a um amigo na fila do pão.
Não sou astrólogo nem vidente, mas sou um optimista que acredita na História de Portugal e nos portugueses. Mas quero acima de tudo acreditar no futuro, num futuro colectivo que nos traz mais, muito mais alegrias e coisas boas que nos possam levar além da nossa própria angústia. Nós somos hoje os nossos principais inimigos e essa luta só podemos travar connosco mesmo. Não será fácil, não será justo, mas é uma batalha que podemos vencer. Mais uma.
Mas como cantava José Mário Branco: «E se todo o Mundo é composto de mudança, vamos dar-lhe a volta que ainda o dia é uma criança.»
PS: Não queria usurpar canções à esquerda conservadora e por isso peço desculpa.