«Odeio a televisão. Odeio-a tanto como aos amendoins. Mas não consigo parar de comer amendoins.»
Orson Welles
Não acredito na felicidade como um estado latente, o «sou feliz» para mim não faz sentido. Apenas o «estou feliz e assim espero que continue». Os factores de realização individual são obviamente variáveis, dependem de nós, daquilo que queremos ou até daquilo que sem saber desejamos. A busca dos nossos prazeres, o ir ao encontro dos tais momentos de felicidade.
O Homem sempre viveu em dificuldade com o prazer. Há mesmo quem tenha medo, não de o perder ou de não o alcançar, mas de o chegar a ter.
Mas o Homem contemporâneo procura o prazer. Cada vez mais as pessoas se consciencializaram de que é um elemento fundamental para os seus momentos felizes e, então, aí vai disto. Cortam a direito na busca da felicidade. Cada vez mais esses prazeres se multiplicam e a capacidade do Homem de criar novas formas de prazer parece ilimitada. Até aqui tudo bem, mas há algo que me preocupa. O Homem está mais só. Mais isolado. Menos sociável. A padronização está invertida aos meus olhos. As pessoas tornam-se iguais na busca pela diferença. Há sede, sede de cultura, de afirmação, de prazer. Os limites foram alterados, a fasquia está mais alta, e nem todos sabem lidar com isso. Procuram desenfreadamente algo... e perdem-se. E aí mudam de prazer, de objectivo, de meta. Adaptam-se sem nunca chegarem a terminar o que começaram. Escasseia a força e refugiam-se no egoísmo.
E o prazer egoísta tem diversas formas. Um amigo entra na discoteca e deixa o outro à porta, os namoros são inconciliáveis porque ele não abdica do futebol (no estádio, na televisão ou no computador), e ela não abdica de ver a centésima loja no centro comercial mesmo com o rapaz quase a desmaiar. Não se apercebem mas isolam-se, são os jogos de computador, a Internet e os chats, as diferentes formas de estupefacientes, a ambição pessoal desmedida, o confundir «competição» com «egoísmo» ou «inveja».
Três pessoas, três televisores, o mesmo programa, uma família.
Não querendo parecer tão radical como Victor Hugo que afirmava que «o solitário é um diminutivo do selvagem, aceite pela civilização», até porque por vezes gosto de estar só, não devo é permitir que essa seja a regra.
E hoje é de pequenino que tudo começa. Não é fácil resistir, o prazer comanda a vida. Diverte-te, seja feliz e procure o prazer, não o receie, não o controles, mas não viva apenas em função dele. Até porque a forma de multiplicar a felicidade é ajudando outros.